Como é bom ter o amor de volta... Nós duas passamos por dias turbulentos interiormente. Nosso relacionamento começou assim, era o fim de um relacionamento dela, mas um relacionamento que deixou marcas e sentimentos, medos e incompreensões, um relacionamento onde uma só se entregava demais, se entregava totalmente por amor e a outra, nem tanto. E então, eu chego no ambiente, não estava buscando uma mulher e sim um homem que havia conhecido e me envolvido, e que coincidentemente era vizinho de uma amiga de um amigo meu, a vizinha era ela, a mulher que descobri e senti dentro de mim uma vontade de me lançar e de amar, ela ficou na minha cabeça e dias depois, confessei-lhe meu desejo de ficar com ela, mesmo sabendo que ela tinha uma namorada. Isso a deixou boba, pois, a imagem de que eu curtia homem era uma certeza, para ela, eu não curtia MULHER.
No passado, me envolvi rapidamente, quase que como um fetishe com duas mulheres, mas, não me preencheram, não foi algo que me fizesse querer um envolvimento afetivo, por isso, não me via como bissexual ou mesmo lésbica, mesmo tendo momentos onde algumas do meio artístico me despertavam o desejo ou até mulheres comuns do meu cotidiano, mas, algo que eu encarava como fruto de minha visão sexual libertária. Quando eu a conheci, realmente foi por curiosidade de saber onde o cara com quem eu tinha me envolvido morava, era muita coincidência meu amigo se envolver com alguém que tinha uma amiga que morava no apartamento em frente a ele, além de todos serem estudantes na mesma cidade Grande, mas, com a família e residências na mesma cidade do interior.
No fim das contas, nos envolvemos, eu estava sim a fim dela, mas não sabia que iria ser algo tão intenso, ela acabou o namoro no outro dia e já estávamos nos envolvendo, o relacionamento dela estava muito desgastado com coisas que não desejo expor aqui, mas, estava, logo iria ter sim um fim, eu apenas vim para colaborar com o processo. Ela teve resistência, não queria trair a namorada, mas, tantas coisas em falta numa relação fez com que ela perdesse esse sentimento de culpa e vivesse algo novo. Mas, a coisa entre nós foi aumentando, e mesmo assim, ainda havia a dúvida se ela amava a outra, e ela era a minha sombra, algo que eu temia muito, algo que me machucava e me fazia ficar insegura na relação, eu sabia que essa dúvida existia nela em relação ao que sentia pela ex, foi tudo tão rápido entre nós, ela não teve tempo de ficar só e no relacionamento anterior também fez isso, acabou com a outra ex para ficar com essa, e acabou com essa para ficar também imediatamente comigo, foram muitos anos sem pensar sobre si, sem se ver sozinha, sem curar as memórias... Além disso, ela se assustou com a intensidade de meus sentimentos. Temeu que acabasse rápido como começou, temeu não ter estrutura para todo o meu sentimento, ela não tinha vivido isso antes, quem estava nessa posição geralmente era ela e não a outra. Parece que ela percebeu que não sabia como ser amada. Foi então que chegou o momento que a alma pedia... “O que eu sinto por você de verdade? O que eu sinto pela ex durante estes quase três meses tão rapidamente organizados?”
Ela decidiu ficar só, ver os erros na nossa relação e neste tempo, eu vi os meus. Eu era intensa demais para uma pessoa ainda em processo de cura interior de suas memórias. E ela, não estava acostumada a ser amada daquele jeito, a ver alguém com tanto sentimento, alguém que ia junto com ela, alguém que fazia o papel que foi dela nas relações anteriores, o papel de quem se doa e de quem quer conquistar também, pois, ama a pessoa e deseja seu amor livre, sem sombras, sabe?
Os dias foram duros para ela também. Sentiu minha falta, e eu sofri com a distância, até que decidi romper o silêncio e chutar toda a indignação, eu preferia ter ela como amiga do que achar que eu fui completamente esquecida. A tristeza pouco a pouco ia me conscientizando do que eu não queria, mas esquecer aos poucos, ser indiferente, buscar forças era necessário. Voltei o contato com ela, e senti que minhas esperanças eram reais, ela também sentia minha falta, mas ainda tinha dúvidas se suportaria minha intensidade e se sentia mesmo todas as coisas que achava que sentia por mim, se tudo não foi apenas algo daqueles dias passados e já não era mais uma realidade, além disso, ela sabia que eu estava ferida demais com sua atitude rápida. Conversamos, vimos que ela também errou em não conversar comigo sobre o que pensava, isso temendo que eu não desse atenção e não melhorasse o que era necessário. Eu falei que uma relação é a dois, e que ninguém deve ter medo de discutir a relação, que todos nós somos professores uns dos outros e devemos sim mostrar o caminho, e que quando ela não fez isso, ela me deixou só na relação, me deixou só, cuidando de coisas que eu via, mas não das coisas que ela via, cada ângulo do lugar onde estamos dá uma visão diferente das coisas, eu posso até ver quem está à minha esquerda, mas só o outro vê o que está mais a frente por causa da sua localização e seu ângulo de visão, não é?
Na minha consciência eu sabia (e disse-lhe) que um vidro quando quebra não é o mesmo, é preciso restaurar, mas a marca fica. Só restava-nos o exemplo do jarro que eu sentia que seria análogo ao que deveria ser nossa relação se voltássemos um dia: Uma nova planta para o mesmo jarro. Ou ainda, o mesmo sol que nasce todos os dias mas não é o mesmo de ontem, nem mesmo o céu é o mesmo, é algo que se transforma, mas continua sendo o que é. Ela sentiu uma grande vontade de me ver para tirar de vez suas dúvidas e eu as minhas, tudo podia acontecer, isso se deu entre uns dez ou onze dias depois da nossa separação. Eu temia que ela me visse antes de ver a ex e decidisse ficar, mas, eu ficaria em dúvida e ela também, eu não suportaria incertezas novamente, nem resíduos, nem medos, nem vacilações dela. Jamais! Mas, ela veio sim conversar comigo. Eu não iria mais a sua cidade, seria um grande desgaste emocional para mim, ainda mais se decidíssemos não voltar o relacionamento e o justo era ela vir sim, ao menos me pedir desculpa pelo estrago emocional do qual eu estava me levantando. A esta altura eu já estava muito melhor, já estava me abrindo mesmo à realidade e à outras possibilidades. Ela percebeu isso também.
Dia marcado, ela veio, sabendo que eu gosto dela, mas estava pronta para ir adiante sem ela, a dor e a decepção tinha diminuído e aos poucos eu me tornava mais lúcida segura diante de tudo. Quando ela me viu, me falou que tinha conversado coma ex sim, e por isso veio falar comigo e viu ali que era eu quem ela gostava e que deveríamos sim estar juntas, que sabia o tempo todo que se existia alguém que a merecia este alguém era eu, mas ela não soube se dar tanto até ali, me pediu desculpas por tudo, sentiu vergonha do que fez, mas, queria sim algo que eu dizia para ela: “Ainda há sementes que não plantamos juntas, mas não serão plantadas no mesmo jarro e sim em um jarro novo para nós duas cuidarmos”. Nessa hora eu pensei que ela falava de amizade, mas não, o jarro novo era a nossa relação que se daria de um jeito novo.
Fiquei feliz, e esta noite tudo o que aconteceu durante a conversa e depois foi muito especial, foi mais profundidade do que intensidade, mais sentimento do que desejo. Eu a senti inteira, totalmente para mim, como nunca senti antes, é como se estivesse mais livre e mais segura, mais entregue do que já era, algo que nunca vou me esquecer e agora, a nossa relação parece que deixou a loucura da paixão para ser algo mais sentimental, muito mais companheiro, muito mais profundo, muito mais suave, sem deixar de ser verdadeiro e intenso. Acho que nossa nova planta cultivada por nossas mãos juntas é mais bonita, mais sólida, mais entregue, mais inteira, mesmo eu ainda temendo que ela de repente mude de idéia novamente, essa é uma seqüela que dia após dia diminui, mas ainda existe, é a herança do medo de se repetir tudo o que me machucou, mas, estou mais consciente disso, então, estou mais preparada para tudo e mais atenta. Estamos bem, e acho que ela está ainda mais doce, mais meiga comigo e com nossa relação e eu, estou mais madura, mais consciente, mais atenta. É bom saber sim que é a mim que ela quer e que o que ficou da sua ex é a lembrança de alguém que fez parte de sua vida, mas alguém por quem você nutre uma amizade, mesmo ela tendo dado o passo para tentar uma volta entre elas, algo que ela mesma viu que já não era possível ao menos dentro dela.
Um passo de cada vez, é o que estamos vivendo e a cada dia eu descubro o quanto eu te quero junta a mim e o quanto vejo que é isso também que você quer. Acho sim que foi necessária esta separação para sabermos o que realmente sentimos e como deve ser nossa relação daqui para frente.
Que bom que estamos juntas outra vez para que nossa história continue sendo construída e para fazer crescer nossos sentimentos. Por vários motivos que não desejo mencionar aqui, mas você sabe bem quais são, estou gostando muito mais dessa nossa fase do que da anterior.
Um beijo...