segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Histórias minhas e "As alianças de prata..."



A vida é uma coisa muito engraçada mesmo. O amor é ainda mais! De repente, eu estava em uma situação completamente diferente desta que vivo hoje. Eu me interessava por homens, me relacionava com homens, tive duas aventuras com mulheres, mas nunca cheguei a me apaixonar por elas, nunca me imaginei apaixonada e namorando uma mulher. Por não apresentar desejo de me relacionar afetivamente com mulheres é que julguei que ficar com uma mulher era apenas fetiche,fantasia, fruto de minha mente liberal e moderna em relação ao sexo. Eu me via como uma pessoa de mente livre, mente aberta, sem dogmas, tabus ou hipocrisia.

Achava sim algumas mulheres bonitas, algumas até fantasiei coisas com mulheres, tive sonhos eróticos com algumas, desejava secreta e rapidamente outras aqui na cidade, mas, era coisa de momento, coisa quando elas passavam e eu estava com muito fogo sexual, não sei exatamente explicar, mas, quando me pensava quanto à minha identidade sexual,  sempre me guiava pela minha não vontade de me envolver afetivamente, o que me mantinha no espaço heterossexual, mesmo com estes leves sinais de bissexualidade ou até homossexualidade mesmo, como se apresenta mais nitidamente hoje. 

Eu dizia sempre que não seria hipócrita de dizer que não me envolveria sexualmente com uma mulher, pois, na minha cabeça, eu tinha uma fantasia sexual de fazer ménage com um casal hétero pelo qual eu me atraísse, ou seja, eu teria uma relação sexual com um homem e uma mulher se tivesse essa oportunidade, e naquele espaço, quando tocasse a mulher ou fosse tocada Por ela, estaria tocando sim o feminino e sendo tocada também, ou seja, estaria tendo uma prática homossexual também. No entanto, eu via isso como uma fantasia sexual, nada mais, assim como via as demais coisas que eu desejava rapidamente e logo passava...

Um dia, interessada por um rapaz, uma chuva de coincidências trabalhou ao meu favor e sem perceber, estava sendo levada a uma mulher e foi por ela que me interessei rapidamente. No começo, pensei que era  mais uma fantasia também, ou até algo que duraria pouco, um caso, sei lá, mas, alguns dias depois, fui observando a personalidade dela, a sua história, seu jeito misterioso e ao mesmo tempo alegre, acolhedor, meigo e comecei a pensar na possibilidade de realmente ficar com essa pessoa e até me envolver, sem imaginar que seria algo tão sério quanto é hoje tudo entre nós. Quando aconteceu o clima e a oportunidade de ficarmos juntas, descobri que queria um pouco mais, e das outras vezes, fui percebendo que queria mais e mais e mais... Tive então que ter coragem para enfrentar a história dela e entrar na sua vida, coragem para enfrentar seu passado, não temer uma volta ao seu relacionamento ainda recente e aprender a deixar de temer que seus sentimentos pela outra pessoa antes de mim ainda existissem e o que ela sente por mim não fosse algo tão grande, tão verdadeiro como demonstra que sente e como sinto que é, mesmo antes, temendo que esse sentimento todo não passasse de uma ilusão, uma coisa criada para ser um escape de sua parte para esquecer seu passado. 

Tive que ter coragem ainda de me ver sob o risco de ser descoberta numa relação homossexual e ser reprovada pela minha família, ver minha família decepcionada por eu não apresentar o comportamento sexual e afetivo que elas consideram o certo (heterossexual), aquele que a sociedade não fala mal, não condena, não reprova, não marginaliza, aquele que não envergonharia minha família quando o mundo descobrisse que mais um par se formou e deseja viver isso com o mesmo direito, liberdade e respeito social que os heterossexuais tem... Eu já sabia que era difícil ser homossexual, mas quando me ví envolvida intensamente e amando a uma mulher, comecei a ver o quanto isto é muito mais difícil do que imaginei.

A primeira coisa difícil é a família, o medo de ser rejeitada e de maltratarem a pessoa que você ama, desrespeitarem algo tão puro, belo e sagrado como o amor, sendo este amor, por uma questão religiosa tão condenado e sacrificado, sofrido... Outra coisa difícil foi ver que eu não poderia fazer como meus irmãos que trazem seus pares para casa, apresentam á família e a minha namorada não pode vir aqui com o mesmo tratamento, vem como minha amiga, mesmo sob suspeitas de que algo entre nós aconteça de fato...

Não poder partilhar a minha história de amor com a família, eles esperaram tanto para que eu encontrasse alguém com quem eu me sentisse bem e sentisse que vale a pena  viver tudo o que vivemos belamente, torceram tanto para que eu encontrasse alguém que eles também gostassem, mas, agora que encontrei essa pessoa, não poder dizer a eles que estou feliz não com um homem, mas com uma mulher como eu, e  saber que eles não compreenderiam que ela merece o mesmo tratamento, o mesmo respeito que as outras pessoas que se envolvem com as pessoas da minha casa, não ver minha família tratando-a com o mesmo tipo de tratamento dado a quem namora nossos familiares, sabendo que eles não compreenderiam que tenho o mesmo direito que os outros tem, eu me firo!

Firo-me um pouco porque minha namorada merece todo o carinho que as outras pessoas que entram para a família recebem, pois ela é tão especial, verdadeira e merecedora quanto as outras pessoas são, mas nós temos que viver às escondidas, como se fizéssemos algo errado, vivemos assim para que nossos familiares não se machuquem com a decepção que eles não querem ter sobre nós por compreenderem que homossexualidade é algo condenável, proibido, uma aberração ou sei lá mais o que. Nossas famílias não podem conhecer nossa parceira porque somos mulheres e eles não têm estrutura psicológica e ideológica para isso, pois, vivem sobre pressão social como nós, nesta hipocrisia que se chama vida em sociedade. Sinto inveja sim do meu irmão que pode se trancar no quarto com a namorada e todos sabem que é a namorada dele e o que vivem, respeitando isso, mas eu, ao receber minha namorada em casa, não posso fazer carinho público porque eles não podem saber que minha “amiga” é minha NAMORADA.

Hoje, comprei um anel que parece uma aliança, mesmo sendo prateada. Comprei esta porque queria que nossos anéis fossem iguais e tive dificuldade de achar um modelo em anéis femininos e neutros com nossos tamanhos, mesmo  sabendo que nem eu nem ela poderíamos usar esta aliança diante dos familiares porque seria uma pista muito clara de um compromisso com alguém e no caso dela seria algo mais grave, já que sua família é mais acirrada em relação a ela por ela já ter revelado sua opção sexual , e a minha  família também iria querer saber ou ficar desconfiada de um compromisso mais intenso com alguém que não vai ser apresentado a eles, já que saem que me relaciono com alguém que não conhecerão tão cedo. Eu queria dar este anel símbolo a ela, mas tive que trocar mesmo, encontrei então um  anel com pedrinhas, um modelo mais neutro, será então símbolo nosso, algo para lembrarmos uma da outra e de nossos sentimentos quando olharmos para ele, mas será um anel que poderemos usar livremente. Falta-nos a liberdade de poder usar os códigos do amor que os heterossexuais podem expressar para o mundo.


Eu já estou até me acostumando com essa situação quase secreta, é muitas vezes um peso ver que não podemos ser livres em nos expressarmos, mas, o amor tudo supera e já que algumas pessoas partilham nossa história com respeito e compreensão, o peso diminui, dá um certo conforto. O mais importante é que eu a amo, e ela sabe disso, sente isso como eu sei e sinto de sua parte também. E sinto também que toda essa reprovação, todo este medo de sermos descobertas e reprovadas, todo o desejo contido por causa dos olhares públicos, quando podem ser expressos a sós ou nos espaços semi-públicos permitidos (casa de amigos), nossos sentimentos se tornam muito mais intensos e verdadeiros do que aqueles que se expressão livremente, pois, o nosso amor se expressa de modo muito mais forte, como se a fome de estarmos uma com a outra só pode ser saciada após a espera do especo certo para que seja saciada. 

Eu te amo, minha linda, com todo o meu sentimento, algo que o seu amor ilumina e preenche em mim a cada dia mais. Te amo pela plenitude de tudo o que vivo ao seu lado, e de poder me dar em plenitude para você também. Espero que um dia sejamos livres e independentes para vivermos nosso amor sem tanto medo. E eu agradeço a vida por ter feito você e por ter me permitido existir para te encontrar: SORTE! Isso é simplesmente algo muito, muito, muito difícil e raro para muita gente, mas nós fomos recompensadas, não sei você, mas eu me sinto consolada depois de tantos desencontros, frustrações, desilusões e erros no amor. O seu amor é um mar enorme, lindo, ora suave, ora intenso, mas o tipo de mar que eu sempre quis encontrar e navegar... E encontrei, não foi? Aliás, o universo conspirou a nosso favor a partir de uma chuva de coincidências que hoje compreendemos muito bem porque aconteceram!

Eu Te amo! Te amo, te amo muito!
Sinta-se abraçada  por mim, pois é assim que me sinto, mas abraçada por ti.

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